8.10.12

VENTO SUL


Estava mesmo ali. Ao alcance da mão. Depois houve algo que distraiu a sua atenção e num instante se desvaneceu como uma miragem no deserto. E estava mesmo ali, tão perto...
Procurou em vão com o olhar, não conseguia aceitar tal perda. Sentiu que a vida é uma merda por fazer desaparecer tudo aquilo que se deixa enfraquecer na atenção, o castigo para a falta de concentração no que se julga indispensável na ressaca de já não haver.
E havia, logo ali. Mesmo, mesmo ao pé. Depois surgiu uma falta de fé, momentânea, mas a perda foi instantânea e agora já não tinha aquilo que nunca lhe pertencera mas estupidamente gostava de acreditar nessa condição. Agora sofria uma desilusão por sentir a falta, da fé acima de tudo, que julgava tão eterna e afinal não era de confiança e ajudava, cúmplice por omissão, à matança sistemática de jovens emoções, tão novinhas, que a tenra idade tornava tão parvinhas mas ainda assim...

Estava mesmo além. Já não se lembrava bem, mas achava que era logo ao virar da esquina, era uma coisa pequenina que de repente desaparecera como um arbusto arrastado pelo vento no areal de um deserto como o sentira na altura, trazia na boca uma secura com que se distraíra quando parou para matar a sede de tudo quanto lhe faltava e depois o vento que por ali passava, numa fracção de segundo, terá levado para o inferno lá para o fim do mundo algo de que já não se lembrava bem, só sabia que era mesmo além e nunca lá voltara para confirmar e entretanto até deixou de soprar.

2 comentários:

Red Angel disse...

Gosto!
Desta prosa,
Deste texto em rima
Da leitura que combina.

shark disse...

Espero conseguir repetir a façanha, para gostares outra vez.