Estava mesmo ali. Ao alcance da mão.
Depois houve algo que distraiu a sua atenção e num instante se
desvaneceu como uma miragem no deserto. E estava mesmo ali, tão
perto...
Procurou em vão com o olhar, não
conseguia aceitar tal perda. Sentiu que a vida é uma merda por fazer
desaparecer tudo aquilo que se deixa enfraquecer na atenção, o
castigo para a falta de concentração no que se julga indispensável
na ressaca de já não haver.
E havia, logo ali. Mesmo, mesmo ao pé.
Depois surgiu uma falta de fé, momentânea, mas a perda foi
instantânea e agora já não tinha aquilo que nunca lhe pertencera
mas estupidamente gostava de acreditar nessa condição. Agora sofria
uma desilusão por sentir a falta, da fé acima de tudo, que julgava
tão eterna e afinal não era de confiança e ajudava, cúmplice por
omissão, à matança sistemática de jovens emoções, tão
novinhas, que a tenra idade tornava tão parvinhas mas ainda assim...
Estava mesmo além. Já não se
lembrava bem, mas achava que era logo ao virar da esquina, era uma
coisa pequenina que de repente desaparecera como um arbusto arrastado
pelo vento no areal de um deserto como o sentira na altura, trazia na
boca uma secura com que se distraíra quando parou para matar a sede
de tudo quanto lhe faltava e depois o vento que por ali passava, numa
fracção de segundo, terá levado para o inferno lá para o fim do
mundo algo de que já não se lembrava bem, só sabia que era mesmo
além e nunca lá voltara para confirmar e entretanto até deixou de
soprar.