28.7.08

JUS AO NOME (do blogue)


25.7.08

SENTIDO OBRIGATÓRIO (Abril 2007)

Tão simples. Deixarmo-nos embalar pelas ondas num imenso azul e chamar-lhe vida preciosa que é urgente saborear.E enfrentar tempestades, que sempre existirão, as tormentas que experimenta qualquer navegador, mesmo que fique em terra e ignore o amor.A aventura da existência, a sorte e o azar, o poder navegar sobre os espaços que incluímos no mapa de viagem pessoal.O privilégio de escolher como o fazer, o rumo nas nossas mãos, pelas cartas que indicam os portos de abrigo ou ao acaso pelo desconhecido que urge desvendar.

Mistérios que guardamos naquilo que somos e a mente é tudo aquilo que nos faz. Ou a alma, como preferem os adoradores de deuses que acreditam ser esta apenas uma etapa num percurso que só depois do final poderá ser absolutamente feliz.A nossa fé num amanhã para avançar num rumo qualquer nesta viagem sem sentido algum quando a abraçamos sem vontade de a usufruir.Sem sabermos sequer de que lado das nuvens olharemos o céu daqui a nada.

E a vida na nossa mão, as rédeas que o torpor idiota do efeito da ressaca de dias desperdiçados a correr nos leva a ignorar e quando nos apercebemos que precisamos agarrar o leme e virar é quase sempre tão tarde demais. As decisões que deixamos por tomar, optimistas, até ao dia em que alguém terá que as decidir por nós. Ou ficarão para sempre adiadas nas memórias enterradas em conjunto com um invólucro que afinal deveria ter servido sempre e só para sentirmos o prazer da existência.

A vida a doer, pela evidência que nos obriga a reconhecer aquilo que vivemos às cegas. Aquilo que tapamos com as talas laterais que roubam à vista a felicidade que às vezes só surge de relance no ângulo alargado de uma visão periférica. Passam-nos ao lado as oportunidades melhores, o encanto de amores ou mesmo a inigualável experiência de ver um filho a crescer. Depressa demais, quando nos deixamos atordoar pelos narcóticos de um sucesso feito de plástico, inventado de propósito para nos impedir de olhar a sério para aquilo que interessa afinal.Drogados pelo ópio do povo que é a ilusão da riqueza, o desvio de uma certeza que todos os dias é iluminada por um novo nascer do sol.

A esperança que aniquilamos com o tempo que desperdiçamos a fugir das coisas que nos fazem sorrir, cegos pelo cumprimento de um desígnio que não passa de uma obrigação que alguém nos vendeu.Uma história mal contada que precisamos com urgência alterar, cada um o seu desvio para a linha alternativa nos carris da locomotiva ou esculpida pelo destino nas palmas das mãos.

Uma guinada no leme, repentina, viramos naquela esquina para o lado oposto onde a ilha deserta ou outra terra incerta nos podem aguardar. O destino a mudar quando não serve os propósitos sagrados de qualquer ser dotado de vida e capaz de decidir por si só.

O exemplo de uma avó ou de qualquer pessoa infeliz que não teve aquilo que quis enquanto podia lutar pela sua obtenção.A verdade na nossa mão, a cada instante mais clara.

Porque o tempo não pára.
Mas o mesmo não acontece com o nosso coração.

24.7.08

UM DIA A SUL


22.7.08

ARRITMIA (Março 2006)

Galopava esbaforido no interior do estábulo improvisado que lhe sufocava a alma selvagem de puro-sangue. Ninguém conseguia acalmar aquela correria desenfreada, aquela ânsia descontrolada que o movia, pancadas secas de cascos nas paredes que o cercavam e assim marcavam o ritmo da sua vontade de escapar para a liberdade que a planície lhe prometia, lá fora, onde vivia uma parte de si.

O sol forçava a entrada em todas as aberturas, por quão minúsculas, daquele espaço tornado sombrio pela angústia do cativeiro. O sol espicaçava-o e acelerava-lhe a pulsação, roubava-lhe a razão porque o ensandecia com pequenas cócegas de luz. Amostras do céu que o esperava no exterior. E o vento colaborava na agitação, transportava o som da ondulação na costa costeira, perto dali.Reuniu as forças que lhe restavam. E depois rebentou o portão e saiu.

Parecia que sorria quando se percebeu livre de novo para correr sem destino, para buscar no horizonte um objectivo, um caminho alternativo, a escolha que lhe competia assumir e não delegava. A liberdade que abraçava e os riscos que não temia, sozinho pela pradaria, entregue a si próprio sem freio nem sela. Corria eufórico e respirava alegria em cada inspiração. Transpirava emoção.

Vagueou pela paisagem enquanto durou o êxtase da loucura que dele tomou conta nesses dias da libertação anunciada. A longa cavalgada que o tornava senhor do sentimento, o seu, e o instinto que o guiava pelo caminho como uma fonte de luz que o atraía de forma irresistível para a vertigem do desconhecido. Para uma nova dimensão, justiça feita pela reposição de um estado de alma que quase esquecera confinado numa espécie de prisão voluntária. Precisava de conhecer o mundo sem barreiras, o fundo adormecido da sua natureza libertária que ditava as regras do jogo nessa altura.

Contudo, sabia que não lhe pertencia por inteiro o controlo da situação naquela corrida. O ponto de partida que o reclamava, rédeas imaginárias que o alertavam para o compromisso impossível de desvincular, e o ponto de chegada que lhe rejeitava o excesso de euforia, na distância que aumentava à medida que progredia, desastrado, na aproximação. Um contra senso necessário para lhe domar o imaginário e apelar à razão. Para abrandar a corrida e entender a essência do seu papel na vida que o acaso lhe moldou.

E foi assim que regressou, a trote, ao espaço que o acolhia, no interior de si mesmo, à origem do desassossego, paradoxal, que afinal constituía a única solução ao dispor. O amor que o movia, plural, devidamente enquadrado na lista das prioridades a respeitar e das verdades que não podia desmentir, limitações escusadas pois não seriam limitadas as suas opções, apenas debatidas nas discussões que lhe gritavam vai mas volta.Puxava uma carroça que albergava o legado fundamental, a eternidade garantida, a felicidade prometida na réplica de si numa cria de alazão. Porque queria.Postura de garanhão insaciável na aventura que entendera perseguir. Uma forma de agir que o perderia, caso ignorasse o caminho de regresso, inevitável, ao doce remanso que o reclamava na casa sua. O juízo que lhe faltou, oferecido de bandeja por quem não negava o amor nos dois extremos da sua equação.

Sereno, observa agora as estrelas e escuta sem problemas o som distante da rebentação num estábulo com muitas janelas, com paredes transparentes e isento de portão.

Livre dos grilhões que a sua cabeça lhe impunha no cárcere que nunca existiu e apenas o reprimiu de ignorar os condicionalismos naturais às suas paixões destravadas.
Para ser feliz, à solta, pelos espaços sem grades das suas convicções amotinadas.

20.7.08

TÁS A BRINCAR...

17.7.08

LIGAÇÕES PERIGOSAS (Fev 2006)

Às vezes as palavras não me parecem as amigas que eu preciso acreditar. Tenho medo da sua má influência, não em mim mas nas outras pessoas. A mim as palavras não fazem mal algum, já aprendemos a conviver com esta relação de dependência, já aceitámos a nossa incapacidade de existir nas respectivas ausências.
As palavras, as minhas, não existem de facto sem alguém que as dê à luz. Sou pai como sou mãe destas reproduções grosseiras daquilo que me faz. Mas também sou o amante que lhes ensina a arte da paixão, que com elas partilha as emoções mais profundas, as fraquezas mais secretas e tudo o que possuo de bom e de mau para exibir.

As palavras crescem em mim e depois apresentam-se a quem as encontra pelo caminho e nem sempre exprimem a minha essência e outras vezes vão longe demais na exposição do que sou. Atraiçoam-me, como górgonas, petrificando a minha imagem ao sabor das diferentes interpretações que induzem.
E por isso receio por vezes as palavras e fujo-lhes a sete pés, viro-lhes as costas, tapo os ouvidos ao seu canto de sereia com que me arrastam para o falatório e me denunciam enquanto homem vulgar.

O meu amor pelas palavras, contudo, também me obriga a acarinhá-las. Rendo-lhes homenagem em cada tentativa de as utilizar de forma adequada, de conseguir conferir-lhes um sentido e uma missão. De as embelezar pela combinação entre si. O amor requer coragem, requer sacrifício, exige entrega e abnegação. Exige a predisposição para arriscar as perdas e as derrotas, os actos falhados e as desilusões, o perigo das revelações que nos humilham.
Mas o amor, mesmo o das palavras, também dá em troca. Nos momentos de felicidade, nas ocasiões especiais em que tudo se conjuga para se aproximar da perfeição. Os textos bem conseguidos, os beijos sentidos, a sensação de euforia que nos invade quando vivemos a ilusão feliz.

Aquilo que se diz e aquilo que se faz, nem sempre em sintonia. Sentimentos confusos e palavras sem nexo que os expõem. Perturbações comuns que se guardam nos jardins secretos do silêncio das palavras que não queremos à solta, por se virarem contra nós nas cabeças de quem as decifra. Ameaças verbais para a nossa intimidade, para a nossa reputação que desejamos imaculada e se vê arruinada pelo efeito que as palavras são exímias a produzir.

Eu amo as palavras.
Mas temo o desequilíbrio imanente na nossa relação (cada vez mais) conflituosa.

14.7.08

ONDA CURTA

7.7.08

A POSTA NA SINALIZAÇÃO VERTICAL (Jan 2006)

Dizem muitos dos que enfrentaram ao longo da vida o fogo real de um campo de batalha que um dos principais trunfos para conseguir escapar incólume nessas circunstâncias é o medo.Paradoxal, esta conclusão soa estapafúrdia e até colide com a opinião de alguns veteranos para quem a guerra se faz de cargas da brigada ligeira, de actos heróicos onde a coragem prevalece e distingue os melhores.

No entanto, quando alguém nos aponta uma arma ou simplesmente nos ameaça de alguma forma, só o bom senso e a prudência podem conduzir-nos ao desfecho ideal. A vitória repartida dos que souberam a tempo evitar o pior, que se pouparam a consequências evitáveis apenas porque decidiram recuar. Agressores e agredidos potenciais, unidos em torno do instinto de conservação.Água na fervura, cabeça fria e a vida continua disponível para aprendermos com as nossas asneiras sem precisarmos de as agravar.

Eu admiro a coragem nos homens que lutam destemidos, como admiro a sabedoria dos que, lutando na mesma, conseguem obter soluções de compromisso que evitam a sua perda e a daqueles que a vida lhes coloca no caminho, na pele de opositores ou de adversários. A guerra, hedionda, a ceder à diplomacia. Menos baixas, menos sequelas, mais gente que sai vencedora.
Qualquer conflito assume as proporções que lhe impõe uma dada conjuntura, os acasos de que o tempo se faz. E a diferença é feita por quem consegue geri-los sem perder o norte à relatividade que o futuro empresta aos eventos que passaram, à luz de uma avaliação sob outros pressupostos.

É por isso que a morte gloriosa dos guerreiros de qualquer tempo em qualquer lugar tem sempre um sabor a desperdício, pois a antecipação do armistício, a razão que prevaleceu, pouparia as vidas e as dores sofridas pelos heróis, para um mesmo resultado a obter no fim.
Mas o mesmo raciocínio, dimensionado à escala das pequenas escaramuças humanas que podem nascer de uma frase infeliz, de uma má interpretação de sinais ou de um piano de cauda caído sem querer no Ferrari do vizinho, pode e deve aplicar-se na perfeição aos nossos desatinos quotidianos.

Às vezes até somos surpreendidos pelas pessoas que, por força das circunstâncias, se colocam nos lados opostos de uma barricada qualquer.Por isso se justifica sempre o recurso ao diálogo, à busca de soluções razoáveis, antes de partir sem rumo para uma bronca leviana.

Por isso, não sendo um pacifista ou objector de consciência, prefiro-me conciliador. E acredito que as minhas reacções em sentido contrário não passam de traições aos princípios que a lógica me confirma e a prática raramente desmentiu.

Existe uma espécie de semáforo interior que nos controla a impulsividade e outras tendências potencialmente lesivas, que nos avisa de quando podemos ou não carregar no acelerador. Quando trabalha menos bem, entra no modo pisca-pisca.

E nos cruzamentos da vida devemos estar particularmente atentos às intermitências da lucidez.

1.7.08

LEFT BEHIND