7.7.08

A POSTA NA SINALIZAÇÃO VERTICAL (Jan 2006)

Dizem muitos dos que enfrentaram ao longo da vida o fogo real de um campo de batalha que um dos principais trunfos para conseguir escapar incólume nessas circunstâncias é o medo.Paradoxal, esta conclusão soa estapafúrdia e até colide com a opinião de alguns veteranos para quem a guerra se faz de cargas da brigada ligeira, de actos heróicos onde a coragem prevalece e distingue os melhores.

No entanto, quando alguém nos aponta uma arma ou simplesmente nos ameaça de alguma forma, só o bom senso e a prudência podem conduzir-nos ao desfecho ideal. A vitória repartida dos que souberam a tempo evitar o pior, que se pouparam a consequências evitáveis apenas porque decidiram recuar. Agressores e agredidos potenciais, unidos em torno do instinto de conservação.Água na fervura, cabeça fria e a vida continua disponível para aprendermos com as nossas asneiras sem precisarmos de as agravar.

Eu admiro a coragem nos homens que lutam destemidos, como admiro a sabedoria dos que, lutando na mesma, conseguem obter soluções de compromisso que evitam a sua perda e a daqueles que a vida lhes coloca no caminho, na pele de opositores ou de adversários. A guerra, hedionda, a ceder à diplomacia. Menos baixas, menos sequelas, mais gente que sai vencedora.
Qualquer conflito assume as proporções que lhe impõe uma dada conjuntura, os acasos de que o tempo se faz. E a diferença é feita por quem consegue geri-los sem perder o norte à relatividade que o futuro empresta aos eventos que passaram, à luz de uma avaliação sob outros pressupostos.

É por isso que a morte gloriosa dos guerreiros de qualquer tempo em qualquer lugar tem sempre um sabor a desperdício, pois a antecipação do armistício, a razão que prevaleceu, pouparia as vidas e as dores sofridas pelos heróis, para um mesmo resultado a obter no fim.
Mas o mesmo raciocínio, dimensionado à escala das pequenas escaramuças humanas que podem nascer de uma frase infeliz, de uma má interpretação de sinais ou de um piano de cauda caído sem querer no Ferrari do vizinho, pode e deve aplicar-se na perfeição aos nossos desatinos quotidianos.

Às vezes até somos surpreendidos pelas pessoas que, por força das circunstâncias, se colocam nos lados opostos de uma barricada qualquer.Por isso se justifica sempre o recurso ao diálogo, à busca de soluções razoáveis, antes de partir sem rumo para uma bronca leviana.

Por isso, não sendo um pacifista ou objector de consciência, prefiro-me conciliador. E acredito que as minhas reacções em sentido contrário não passam de traições aos princípios que a lógica me confirma e a prática raramente desmentiu.

Existe uma espécie de semáforo interior que nos controla a impulsividade e outras tendências potencialmente lesivas, que nos avisa de quando podemos ou não carregar no acelerador. Quando trabalha menos bem, entra no modo pisca-pisca.

E nos cruzamentos da vida devemos estar particularmente atentos às intermitências da lucidez.