Agarramos a dignidade, não como tábua de salvação para a
queda livre em que nos sentimos mas apenas por instinto. Apenas porque algo nos
diz que é essa a última fronteira entre a esperança em dias melhores e o
mergulho sem bóia e sem retorno na decadência.
Contudo, o que resta da lucidez obriga-nos a tomar consciência
do quanto a dignidade parece ridícula perante a impotência para conseguirmos
travar na descida para que nos arrasta a puta da vida quando as coisas correm
menos bem.
Não tardamos a deixá-la cair também, com o resto da sucata
dos valores inúteis num contexto marcado pela solidão quase absoluta. Pelo cano
abaixo com tudo o que restava das trampas que só fazem sentido até ao dia em
que temos que conversar com um filho acerca da forte possibilidade de perdermos
a única casa que o viu crescer.