7.3.12

E DAMOS TUDO POR UMA BOA VIZINHANÇA


Sempre achei que deve existir um elo de ligação forte entre nós, eu e o coiso agarrado a mim. De resto, ainda há dias numa troca de impressões com uma passarinha que frequento amiúde veio à baila a sua relação com a coisa agarrada a ela e, garanto-vos, se fosse de chorar tinha sido ali que me desfazia em lágrimas.
A prontidão com que a coisa agarrada a essa passarinha se predispunha a acolher-nos constituiu sempre uma grata constatação para mim. No entanto, nunca me deu para pensar acerca do que distinguia aquela coisa das outras apesar de achar recomendável todo aquele arejo que, toda a gente sabe, só dá saúde e boas cores.
Mas naquele dia a passarinha resolveu abrir-se ainda mais para mim e partilhou uma inconfidência, estava eu a louvar a atitude tão porreira da coisa que tantas vezes a libertava do tecido opressor quando fiquei a saber em segunda mão (a canhota tinha por lá passado um nadinha antes) que a passarinha era claustrofóbica. E a coisa agarrada a ela parecia sentir-lhe a aflição que tentava exprimir por todos os meios ao seu alcance, nomeadamente tentando até afogá-la (pelo que tenho visto até era bem capaz de conseguir…).
Felizmente nunca precisara de ir tão longe, tamanha a facilidade de comunicação, o tal elo de ligação que deve existir entre as partes e que tanta diferença faz na hora das decisões que só as coisas e os coisos podem tomar por nós e que permitia aquela maravilhosa sintonia, a passarinha a toda a hora fora da sua gaiola de pano e a coisa agarrada a ela sempre a irradiar alegria e boa disposição.
Quando me penso no contexto desta parceria forçada com o coiso tendo muitas vezes a negligenciar o culto de proximidade, os dias passam a correr e as noites ainda mais e uma pila acaba por não ter tempo nem cabeça (credo, que imagem horrível me aflorou a mente) para solidificar os tais laços que, bem vistas as coisas, facilitam a vida a toda a gente. Mas acabo por perceber que a nossa relação acabou por se moldar na mesma à semelhança da que a passarinha tanto louvou.
É que eu não sofro de claustrofobia mas não gosto nada de roupa e nunca soube manifestar esse desagrado sem ser à marrada. Todavia, a minha ligação com o coiso foi sendo construída sobre alicerces sólidos até se tornar num imponente edifício (sim, eu sempre fui o elevador…), chegando o dia em que a sua mais importante fracção mergulhou de cabeça na onda da propriedade horizontal e o coiso, que funciona como uma espécie de administração do condomínio, parece mesmo eu na forma como privilegia com entusiasmo o usufruto frequente e a liberdade inerente à partilha intensa de traseiras, de terraços e das outras partes comuns.  

1 comentário:

São Rosas disse...

Valente cof!