3.3.11

DEATH ROW

Deixaram-no a sós na sala de interrogatório e ninguém parecia ter algo a perguntar-lhe.
Deixou-se estar, decidiu aproveitar a paz naquele silêncio, numa espécie de recolhimento voluntário que gerava um sentimento contraditório e o levava a olhar, de vez em quando, para o espelho que afinal era um vidro do lado de lá de onde o observavam como a uma cobaia num labirinto em pleno sufrágio da sua capacidade para encontrar uma saída dali.
Aguardava as perguntas que pudessem garantir a sua inocência sem saber o teor das acusações, em vão, sozinho naquela sala sem janelas destapadas onde se expunha a olhares desconhecidos por detrás do seu reflexo naquele buraco espelhado de fechadura por onde espreitavam a sua condição e lhe avaliavam a emoção em busca de uma culpa que servisse como primeira pedra na construção da arena bestial onde procederiam à sua definitiva lapidação social.

2 comentários:

Kikas disse...

É o Processo de Kafka, adaptado pelo Shark ao sec XXI ... nunca cheguei a ler o fim da obra porque aquele labirinto de corredores e portas semi abertas parecia não ter fim.
Espero que me contes o desfecho da tua sinopse.

shark disse...

Sem querer por-me em bicos de pés, já por várias vezes compararam escritos meus aos desse gajo cuja casa já pisei.
Temos em comum, eu e esse checo, o facto de gostarmos de pensar e de escrever mas vivermos atormentados por uma mente inconstante e um humor variável, para além de também ele ter vivido dos seguros.
E nunca li nada do que ele escreveu.