Mal conseguia respirar quando deu consigo ao
volante de um Emoções Fortes GT XPTi Turbo, com motor V8 e potência
suficiente para uma aceleração das zero às 200 batidas cardíacas por minuto em
dois ou três segundos.
Bastou pressionar ligeiramente o acelerador
para sentir a força daquele motor e deixar-se dominar pela euforia, encantado
pelo vistaço que faria naquele magnífico Emoções Fortes GT que escolhera em
versão cabriolet, cabelos ao vento, a
galope no asfalto sem nada a esconder.
Ficou colado às costas do assento quando
acelerou prego a fundo, agora era o melhor condutor do mundo e não tardou a
procurar as curvas que queria enfrentar à matador, com a confiança de um
conhecedor capaz de controlar a máquina em quaisquer circunstâncias, minimizou
irrelevâncias como o GPS de série que entrou em curto-circuito e deixou de
funcionar.
Mas ele mal conseguia respirar e acreditava-se
capaz de se orientar sem sistemas de navegação, seguia o mapa da intuição e
devorava quilómetros naquela estrada que parecia não ter fim.
Percorria o caminho assim, acelerado, limite
de velocidade ignorado porque já havia desligado o manómetro da lucidez que
indicava um princípio de rotura nos cabos de ligação de todo o sistema ao travão
que fingia nem existir mesmo ao pé do que acelerava.
Cada curva que enfrentava, sempre à beira do
despiste, era potência que acrescentava à ilusão de um mestre da condução como
se sentia e somava proezas nessa orgia de velocidade descontrolada.
Até que um dia numa curva marada o veículo como
que enlouqueceu, parecia ter manteiga sob cada pneu e até as luzes falharam, não
viu as lombas que o despistaram ao ponto de rodopiar desgovernado e acabou por
embater num muro sem saber como nem porquê.
Circulava sem seguro e ficou muito danificado
o Emoções
Fortes GT, despejado pelo reboque num armazém para a reparação na
medida do possível. O desgosto era terrível, mas tentava encontrar consolação
no milagre da sobrevivência sem mais do que uma pequena cicatriz, os pontos que
levara que eram os pontos que perdera ele mesmo quando finalmente caiu em si.
Aquela aventura acabara ali em definitivo,
isso ele sabia, na parede que desconhecia até que nela embateu.
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