3.9.12

EMOÇÕES FORTES GT DE CORRIDA


Mal conseguia respirar quando deu consigo ao volante de um Emoções Fortes GT XPTi Turbo, com motor V8 e potência suficiente para uma aceleração das zero às 200 batidas cardíacas por minuto em dois ou três segundos.
Bastou pressionar ligeiramente o acelerador para sentir a força daquele motor e deixar-se dominar pela euforia, encantado pelo vistaço que faria naquele magnífico Emoções Fortes GT que escolhera em versão cabriolet, cabelos ao vento, a galope no asfalto sem nada a esconder.

Ficou colado às costas do assento quando acelerou prego a fundo, agora era o melhor condutor do mundo e não tardou a procurar as curvas que queria enfrentar à matador, com a confiança de um conhecedor capaz de controlar a máquina em quaisquer circunstâncias, minimizou irrelevâncias como o GPS de série que entrou em curto-circuito e deixou de funcionar.
Mas ele mal conseguia respirar e acreditava-se capaz de se orientar sem sistemas de navegação, seguia o mapa da intuição e devorava quilómetros naquela estrada que parecia não ter fim.

Percorria o caminho assim, acelerado, limite de velocidade ignorado porque já havia desligado o manómetro da lucidez que indicava um princípio de rotura nos cabos de ligação de todo o sistema ao travão que fingia nem existir mesmo ao pé do que acelerava.
Cada curva que enfrentava, sempre à beira do despiste, era potência que acrescentava à ilusão de um mestre da condução como se sentia e somava proezas nessa orgia de velocidade descontrolada.

Até que um dia numa curva marada o veículo como que enlouqueceu, parecia ter manteiga sob cada pneu e até as luzes falharam, não viu as lombas que o despistaram ao ponto de rodopiar desgovernado e acabou por embater num muro sem saber como nem porquê.
Circulava sem seguro e ficou muito danificado o Emoções Fortes GT, despejado pelo reboque num armazém para a reparação na medida do possível. O desgosto era terrível, mas tentava encontrar consolação no milagre da sobrevivência sem mais do que uma pequena cicatriz, os pontos que levara que eram os pontos que perdera ele mesmo quando finalmente caiu em si.
Aquela aventura acabara ali em definitivo, isso ele sabia, na parede que desconhecia até que nela embateu.

E foi assim que aprendeu a lição à bruta, nessa aula de condução filha da puta.

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