Este não é, nem pode ser, um tema agradável. Convivi com o fenómeno até aos treze anos de idade, altura em que consegui impor pela força o fim de algo a que quis poupar uma irmã mais nova por quem me preocupava nessa altura.A violência doméstica é um pesadelo sem sentido, é uma exibição grotesca de selvajaria com palco no que deveria ser um santuário para qualquer pessoa: a sua própria casa.
Na esmagadora maioria dos casos são mulheres as vítimas. Isto explica-se pelas abjectas questões ditas culturais (a educação que "os" perdoa), pela escassez de opções de quem sofre às mãos de um algoz "da casa" e, santa paciência, pela lei da selva onde o mais forte impõe esta regra medonha à bruta. Uma cobardia, sob qualquer prisma. E uma indignidade também, mesmo que de violência psicológica se trate.A dor de quem se vê refém de um filme assim não se mede pelo teor das sevícias praticadas. Violência é violência e o resto são tretas.
Já falei neste espaço acerca do martírio que hoje está na ordem do dia. Aumentam os casos reportados às autoridades e mesmo que isso reflicta apenas o facto de mais gente avançar com a imprescindível denúncia, é uma estatística que nos envergonha em pleno século XXI.Não há atenuantes para a violência doméstica. A própria expressão engloba o quão nojenta se revela esta manifestação de instintos pré-históricos por parte de alguns neandertais cujo lugar adequado é uma cela. Ou, perdoem-me a franqueza, uma cama de hospital (tá bem, pode ser no Miguel Bombarda...).
Insisto nesta tecla porque nunca é demais apontar o dedo às vergonhas e chamá-las pelos nomes, para que nenhum bandalho se consiga sentir mais macho por dominar a murro a sua companheira (e/ou o resto da família). É assim a realidade nua e crua e não existem paninhos quentes que a pintem de um tom menos hostil.Este ano já morreram mais de trinta mulheres às mãos dos seus carrascos cruéis. Mais de trinta. As que morreram, pois as queixas são às centenas e os silêncios representam milhares.
É um problema, é uma vergonha.
E tem que acabar, de uma vez por todas.
Nas muralhas da cidade
Há 21 horas