24.11.10

UMA VAGA IDEIA

Procurava uma ideia razoável, perdida no meio de uma cefaleia interminável, buscava sem cessar uma maneira de escapar à memória que não lhe permitia cantar vitória na guerra que acontecia entre a cabeça e o coração.

Duas pontas da mesma corda, instinto e razão, esticadas sem parar até ao ponto de quase se romper a ligação entre os pólos aglutinadores da emoção que tentava controlar, o medo de fracassar, o sentido de orientação que se comportava agora como uma bússola desmagnetizada, a cabeça desorientada e o sangue a galope numa corrida infindável e aquela ideia razoável arrastada no frémito da enxurrada que a chuva no rosto algures precipitou.

Lágrimas não saíam e as gotas de água que as fingiam humedeciam-lhe os lábios gretados ao longo da travessia pelo deserto interior, a água evaporada pelo calor que não sentia mas apenas sabia estar a acontecer dentro de si, no ponto onde deveria encontrar uma ideia razoável para escapar à lembrança execrável da sucessão de acontecimentos, lapsos, esquecimentos, que conduziram as ilusões ao cadafalso onde conheceriam o fim.

Uma confissão adiada naquela tristeza molhada pela chuva de um Inverno acabado de chegar, a verdade por contar naquela pantomina de uma revelação que o silêncio ofereceu.

O sonho que morreu prematuro depois de tanto chocar contra o muro da incompreensão que isolava o coração da cabeça, que separava a ideia (que julgava razoável) do espaço onde seria lhe impossível sobreviver, aquele instinto idiota que se recusava a morrer.

Procurava aquela ideia que não queria afinal salvar, mas apenas com o intuito de finalmente a autopsiar.