19.12.10

MESA DE CAFÉ

O desgraçado tecia rasgados elogios à gaja, apesar de ele próprio ser mestre no mesmo ofício. Ela, com o olhar completamente revirado no sentido do umbigo, perdia-se nas (des)considerações acerca de um outro gajo que afirmava odiar mas não parava de arrastar para a conversação.
Ele, visivelmente incomodado, tentava de novo arrastar o assunto para o tema onde podia ser ela a protagonista e ela agradecia. E depois prosseguia com a sua obsessão, cega e surda, fechada em si, e ele calado ali, incapaz de travar aquela figura patética na sua fixação e de prender um pouco a atenção no tema que podiam partilhar e talvez de merecer algum tipo de retribuição por parte da gaja que não se calava e de novo embalava para o outro de quem ele não parecia mesmo nada interessado em falar.
Educado, fez de conta que ia cagar.

E ela lá ficou, à espera sentada do tipo entediado que não voltou.

4 comentários:

Anónimo disse...

hummm
Eu pagava para ter esta arte de escrever...


Ana

shark disse...

E eu vendia, acredita...

Kikas disse...

Não conhecia este teu blogue, Shark. Onde arranjas tempo e inspiração para escrever tanto e com tamanha qualidade?
Tu não és normal, homem, lolol!

shark disse...

Então bem vinda a este humilde estabelecimento, Kikas!
O tempo roubo-o a tudo e a todos.
A inspiração é uma questão pulmonar...
:)