31.5.11
30.5.11
28.5.11
27.5.11
O GRITO INTERIOR
O grito ecoou com a força de um trovão. Mas ninguém ouviu aquilo que só por detrás daquele olhar parecia ecoar e as lágrimas não queriam fugir empurradas pela trepidação, pelas chicotadas sonoras daquele som estridente da explosão de uma mente que já ninguém poderia salvar.
O grito soava como a sirene de alerta numa cidade semi-deserta, prestes a ser bombardeada, uma cidade abandonada pela sorte onde alguém aguardava a morte caída do céu. Foi isso que lhe pareceu enquanto o raciocínio ainda funcionava e debalde tentava encontrar uma explicação para a bizarra condição que afligia quem gritava mas não fugia, braços abertos para receberem o impacto nos peitos que pareciam fechar-se sobre si mesmos para esmagarem os corações que batiam naquelas paredes que os oprimiam cada vez mais.
O grito transformou-se aos poucos numa manifestação de dor pelo que acontecia no interior daquele espaço habitado pela loucura depois da acção sumária de despejo da sanidade precária que agora gemia um murmúrio de despedida, abafado pelo grito que soava agora como os sopros numa orquestra e à distância o vento agitava a floresta para onde o corpo se dirigia sem pensar, o corpo que aceitava sem contestar o comando gritado por aquele cérebro alucinado que ensurdecia aos poucos.
O grito crescia de intensidade na proporção inversa da realidade que definhava à mercê de uma nova dimensão que ocupava agora, invadia, aquela mente que parecia mergulhada numa guerra civil entre duas facções antagónicas e se reflectia nas expressões patéticas daquele rosto distorcido pela ausência de coordenação, o corpo à deriva em completa desorientação na orla de um refúgio que era afinal o oblívio que a mente ansiava, a alienação total do excesso de preocupação que fazia gritar aquela cabeça perdida.
O grito não parava enquanto o corpo caminhava por entre o arvoredo, sem vontade própria nem medo que o pudesse dissuadir da caminhada floresta dentro quando no horizonte já desaparecia o pouco que restava do dia, a luz daquele sol desertor que já não podia ouvir mais o grito e brilhava a espaços, como um farol, na superfície das lágrimas no rosto daquele corpo com uma mente que partiu.
E depois, no mais absoluto silêncio, mergulhado na escuridão da noite que o perdeu, o próprio corpo desapareceu.
26.5.11
BASTA O CHEIRO, ALIÁS
A MORTE DO ARTISTA
25.5.11
24.5.11
SÓ PRESSINTO, NÃO SEI
CONFÚCIO DE BOLSO
23.5.11
É SÓ POR CURIOSIDADE...
22.5.11
UM PRIMAVERÃO
21.5.11
19.5.11
TRIPEIROS DANADOS...
18.5.11
O (ECO)PONTO FINAL
Ficou a observar à distância que o tempo lhe permitia aquele passado que desconhecia quando estava presente naquilo que acreditava ser o princípio de imensos amanhãs.
Percebeu o que não percebia por entre o breu do que lhe dizia a imagem distorcida pelo calor da sua paixão assolapada, a cegueira que cobria os ângulos menos bons destapada pela poeira que entretanto assentou.
Ficou a ver o quanto lhe passou ao lado naquele tempo falsificado pelas emoções que transcendiam as desilusões no confronto directo, o olhar mais atento sobre os pormenores desconexos que a lógica desarmada pelos sentimentos complexos impedia de descortinar por entre a realidade paralela para lá do véu pintado da cor do céu despido das nuvens que afinal já o cobriam então.
Ficou a olhar, vendado o coração, as imagens que conseguira conservar desse tempo até chegar ao momento em que a mente lhe recomendou a abordagem ecológica, a reciclagem psicológica de todos os detritos acumulados.
Passou, então, a colocar cada imagem, cada emoção, no seu devido lugar. Espaços imaginários pintados nos tons necessários para distinguir o lugar mais indicado para despejar o que apenas atrapalhava a arrecadação atafulhada com caixas de papelão poeirentas.
Despejou no contentor verde os cacos do amor de verdade que afinal apenas sonhou e depois dirigiu-se ao amarelo para lá deixar cada imagem que percebia não passar de uma embalagem para presentes envenenados, para momentos condenados pela sua autenticidade de loja do chinês, plásticos baratos dos quais se desfez com enorme alívio interior, pintados com tintas tão tóxicas que faziam lacrimejar como cebolas aquele olhar de crocodilo que sorria para a objectiva fotográfica da memória que lhe permitia agora entender toda a história como uma fantasia juvenil que rasgava para dentro do espaço azul, o papel secundário, o mesmo que lhe merecia quem achava que podia escolher o elenco a seu bel-prazer e o guião gatafunhado com frases de um amor inventado à medida de um ciúme que dava jeito como um magneto instalado no peito para manter interessado um outro alvo qualquer do seu coração de metal e para manter as aparências que disfarçavam as evidências de uma natureza batoteira, profundamente desleal.16.5.11
ASSIM É UM DESCANSO
AS JUSTICEIRAS BLOGUEIRAS
15.5.11
46 ANOS MAIS ESPERTO
E O SILÊNCIO VALE OURO
13.5.11
HOJE É DIA 13 DE MAIO
11.5.11
SEM ALMA PIONEIRA
10.5.11
QUANTAS SÃO, QUANTAS SÃO?
9.5.11
8.5.11
TRIDIMENSIONADO
FICAVA ALI
Ficava calado a observar, sempre que não conseguia tolerar a agressão, como a sentia, da desilusão sistemática que resultava daquilo que tanto tentava enquadrar como simples momentos de fraqueza da parte de alguém.
Mas depois pensava e percebia que quem o atacava fazia-o sem contemplações, ignoravam as emoções que o levavam a insistir. E ele ficava calado, a desistir, aos poucos, daquele impulso contraproducente que o aproximava demais, imprudente, de quem aproveitava depois essa brecha que se permitia abrir.
Ficava calado a sentir-se enganado pelo instinto que o levava até tão perto de mais um golpe nas amarras que deixava agarrarem-se ao ponto vulnerável que em silêncio cobria com as defesas que construia cada vez mais eficazes contra a vontade de as desguarnecer.
Distanciava-se para um ponto isolado e ficava calado a ver de fora, na perspectiva ideal, mais segura, as movimentações que o esclareciam acerca da confiança que lhe mereciam potenciais agressores, amizades e amores que deixava entrar no perímetro por proteger para, pelo menos, aprender mais uma dura lição.
Ficava calado a digerir a desilusão, a sós com o desgosto que para si representava cada etapa que comprovava a sua falta de capacidade para evitar o desfecho que já conseguia adivinhar à partida para cada nova tentativa que não passava de mais um acto falhado, de mais uma chegada ao mesmo ponto final.
E depois recomeçava a luta interior, a esperança de que a seguir viria melhor contra a verdade dos factos exposta a nu pela franqueza da lucidez.
Começava outra vez, calado, a partir de um modelo formado com aquilo que observava e depois, como num puzzle, juntava pela ordem correcta para completar na sua mente um desenho qualquer.
Era tudo o que conseguia obter na ressaca de cada frustração, ele próprio uma desilusão por não saber lidar com aquilo que insistia em enfrentar desarmado pela ignorância que a ingenuidade acarretava.
E depois percebia, calado, o que estragava por escrito ou falado quando o pacto de silêncio que se impunha cedia à natureza desbocada da sua personalidade ambígua e à forma desastrada como encurralava os outros e a si mesmo em becos sem saída emocionais.
Ficava então isolado dos demais, avesso ao contacto que temia prejudicial a todas as partes envolvidas.
Ficava sozinho a queimar lembranças de ligações perdidas, a consolidar as defesas enfraquecidas pela saudade manhosa e outras cúmplices de uma força poderosa que não sabia identificar mas precisava enfrentar com a frieza daqueles que lhe voltavam as costas, aparentes ganhadores, dissidentes, desertores, vencidos pela realidade da separação consolidada como uma tradição sua, uma coincidência infeliz.
E ele conhecia o cariz desse sentimento, revivia cada momento e aprendia que era assim, calado, que obtinha o melhor resultado possível, sozinho ali.
Longe dos outros, quase invisível, afastado de si.