8.5.11

FICAVA ALI

Ficava calado a observar, sempre que não conseguia tolerar a agressão, como a sentia, da desilusão sistemática que resultava daquilo que tanto tentava enquadrar como simples momentos de fraqueza da parte de alguém.

Mas depois pensava e percebia que quem o atacava fazia-o sem contemplações, ignoravam as emoções que o levavam a insistir. E ele ficava calado, a desistir, aos poucos, daquele impulso contraproducente que o aproximava demais, imprudente, de quem aproveitava depois essa brecha que se permitia abrir.

Ficava calado a sentir-se enganado pelo instinto que o levava até tão perto de mais um golpe nas amarras que deixava agarrarem-se ao ponto vulnerável que em silêncio cobria com as defesas que construia cada vez mais eficazes contra a vontade de as desguarnecer.

Distanciava-se para um ponto isolado e ficava calado a ver de fora, na perspectiva ideal, mais segura, as movimentações que o esclareciam acerca da confiança que lhe mereciam potenciais agressores, amizades e amores que deixava entrar no perímetro por proteger para, pelo menos, aprender mais uma dura lição.

Ficava calado a digerir a desilusão, a sós com o desgosto que para si representava cada etapa que comprovava a sua falta de capacidade para evitar o desfecho que já conseguia adivinhar à partida para cada nova tentativa que não passava de mais um acto falhado, de mais uma chegada ao mesmo ponto final.


E depois recomeçava a luta interior, a esperança de que a seguir viria melhor contra a verdade dos factos exposta a nu pela franqueza da lucidez.

Começava outra vez, calado, a partir de um modelo formado com aquilo que observava e depois, como num puzzle, juntava pela ordem correcta para completar na sua mente um desenho qualquer.

Era tudo o que conseguia obter na ressaca de cada frustração, ele próprio uma desilusão por não saber lidar com aquilo que insistia em enfrentar desarmado pela ignorância que a ingenuidade acarretava.


E depois percebia, calado, o que estragava por escrito ou falado quando o pacto de silêncio que se impunha cedia à natureza desbocada da sua personalidade ambígua e à forma desastrada como encurralava os outros e a si mesmo em becos sem saída emocionais.


Ficava então isolado dos demais, avesso ao contacto que temia prejudicial a todas as partes envolvidas.

Ficava sozinho a queimar lembranças de ligações perdidas, a consolidar as defesas enfraquecidas pela saudade manhosa e outras cúmplices de uma força poderosa que não sabia identificar mas precisava enfrentar com a frieza daqueles que lhe voltavam as costas, aparentes ganhadores, dissidentes, desertores, vencidos pela realidade da separação consolidada como uma tradição sua, uma coincidência infeliz.


E ele conhecia o cariz desse sentimento, revivia cada momento e aprendia que era assim, calado, que obtinha o melhor resultado possível, sozinho ali.

Longe dos outros, quase invisível, afastado de si.

11 comentários:

Deixa lá isso disse...

Que até está Sol lá fora e tudo.

shark disse...

:)

São Rosas disse...

Kikas, foste tu que escreveste isso do Sol lá fora, não foste?

shark disse...

Tu és munta cusca...
Não tens vergonha?

São Rosas disse...

Tenho...

Kikas disse...

São, a Kikas nunca escreve nada, como anónima e quando o faz, inadvertidamente, corrige logo a seguir.
Aliás, faço questão de assinar todas as promulgações e vetos que faço, tal qual como o homem do bolo rei.

São Rosas disse...

E não tens vergonha?!

ahahahahahahah

Kikas disse...

Ele é que tem razões para ter vergonha. Até agora, só tenho motivos para me orgulhar de tudo o que fiz.
E a Buffy, está aqui que não me deixa mentir, lololol

São Rosas disse...

Eu, de vez em quando, também dou uma Buffy.

Kikas disse...

Amuei!!!

São Rosas disse...

Eu também te amuo!