Ficava calado a observar, sempre que não conseguia tolerar a agressão, como a sentia, da desilusão sistemática que resultava daquilo que tanto tentava enquadrar como simples momentos de fraqueza da parte de alguém.
Mas depois pensava e percebia que quem o atacava fazia-o sem contemplações, ignoravam as emoções que o levavam a insistir. E ele ficava calado, a desistir, aos poucos, daquele impulso contraproducente que o aproximava demais, imprudente, de quem aproveitava depois essa brecha que se permitia abrir.
Ficava calado a sentir-se enganado pelo instinto que o levava até tão perto de mais um golpe nas amarras que deixava agarrarem-se ao ponto vulnerável que em silêncio cobria com as defesas que construia cada vez mais eficazes contra a vontade de as desguarnecer.
Distanciava-se para um ponto isolado e ficava calado a ver de fora, na perspectiva ideal, mais segura, as movimentações que o esclareciam acerca da confiança que lhe mereciam potenciais agressores, amizades e amores que deixava entrar no perímetro por proteger para, pelo menos, aprender mais uma dura lição.
Ficava calado a digerir a desilusão, a sós com o desgosto que para si representava cada etapa que comprovava a sua falta de capacidade para evitar o desfecho que já conseguia adivinhar à partida para cada nova tentativa que não passava de mais um acto falhado, de mais uma chegada ao mesmo ponto final.
E depois recomeçava a luta interior, a esperança de que a seguir viria melhor contra a verdade dos factos exposta a nu pela franqueza da lucidez.
Começava outra vez, calado, a partir de um modelo formado com aquilo que observava e depois, como num puzzle, juntava pela ordem correcta para completar na sua mente um desenho qualquer.
Era tudo o que conseguia obter na ressaca de cada frustração, ele próprio uma desilusão por não saber lidar com aquilo que insistia em enfrentar desarmado pela ignorância que a ingenuidade acarretava.
E depois percebia, calado, o que estragava por escrito ou falado quando o pacto de silêncio que se impunha cedia à natureza desbocada da sua personalidade ambígua e à forma desastrada como encurralava os outros e a si mesmo em becos sem saída emocionais.
Ficava então isolado dos demais, avesso ao contacto que temia prejudicial a todas as partes envolvidas.
Ficava sozinho a queimar lembranças de ligações perdidas, a consolidar as defesas enfraquecidas pela saudade manhosa e outras cúmplices de uma força poderosa que não sabia identificar mas precisava enfrentar com a frieza daqueles que lhe voltavam as costas, aparentes ganhadores, dissidentes, desertores, vencidos pela realidade da separação consolidada como uma tradição sua, uma coincidência infeliz.
E ele conhecia o cariz desse sentimento, revivia cada momento e aprendia que era assim, calado, que obtinha o melhor resultado possível, sozinho ali.
Longe dos outros, quase invisível, afastado de si.
11 comentários:
Que até está Sol lá fora e tudo.
:)
Kikas, foste tu que escreveste isso do Sol lá fora, não foste?
Tu és munta cusca...
Não tens vergonha?
Tenho...
São, a Kikas nunca escreve nada, como anónima e quando o faz, inadvertidamente, corrige logo a seguir.
Aliás, faço questão de assinar todas as promulgações e vetos que faço, tal qual como o homem do bolo rei.
E não tens vergonha?!
ahahahahahahah
Ele é que tem razões para ter vergonha. Até agora, só tenho motivos para me orgulhar de tudo o que fiz.
E a Buffy, está aqui que não me deixa mentir, lololol
Eu, de vez em quando, também dou uma Buffy.
Amuei!!!
Eu também te amuo!
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