7.10.09

(A)CAMPANHA(-ME) NO RACIOCÍNIO?

Cheguei a ver a turba incendiar um automóvel por trazer bandeiras do CDS, no tempo em que a jovem Democracia ainda não conseguia controlar as hormonas.
Eram dias conturbados, sem dúvida, mas o povo exaltava-se porque estava em causa a escolha (a imposição?) de um modelo alternativo de sociedade e os partidos mais à direita lembravam em demasia os 48 anos de bafio.
Mas era a ideologia que estava em causa e chegou a falar-se em guerra civil quando os cidadãos comuns começaram a reunir armas no cimo dos roupeiros e faziam-se rusgas para encontrar os potenciais inimigos da Revolução no meio das ruas.

Agora as escaramuças têm a ver com pessoas, com feitios, com espíritos de grupo nascidos do mesmo fenómeno que anima as claques desportivas.
Têm a ver com meras disputas pelo poder que se encara como uma questão pessoal e nunca como uma escolha consciente de um programa eleitoral que, de resto, as turbas modernas nem querem conhecer, mas com discursos de treta para endrominar papalvos.

A Democracia envelheceu demasiado depressa.
E não chegou a amadurecer. Ficou logo senil.

6 comentários:

ana conda disse...

Bom, não é bem assim.
Nas assembleias magnas depois de 74
vi muito pessoal a levar nas fuças só porque era do MRPP. Convenhamos que era assim. Batiam sem saber porquê. Cultura política havia pouca. Alguns tinham lido a cartilha do Mao, outros o Trostsky, outros umas citações do camarada Lenine, tinham ouvido falar remotamente de Marx e Engels.
Portanto não me lixem, é tradiçao, somos assim. E nessa altura espantei-me, eram os meus camaradas de luta de antes de 74, que davam e levavam porrada. Somos assim, uns imberbes mentais, mais nada. E também nessa altura não ligavam a programas, também havia clubismo.

shark disse...

Tens toda a razão, esqueci-me dos gloriosos dias de luta (propriamente dita) do MRPP. Mas sempre pintavam umas paredes entre zaragatas, agora só as forram com material fatela...
Mas na tua perspectiva está tudo mais ou menos na mesma, o que tem o seu quê de reconfortante.

Susete Evaristo disse...

Não sei nem me lembro desses dias de "porrada da grossa" como acima se refere. Também reconheço que há quem escolha em quem votar sem ter presente uma ideia apenas contida num qualquer caderno eleitoral, também há quem dispute eleições sem ter uma ideia uma proposta, porém há aqueles que apresentam propostas válidas concretizaveis e que pura e simplesmente são renegados à partida, porque 48 anos de obscurantismo e mais 30 de demagogia não deixa ver que o mais importante são as pessoas

ana conda disse...

Shark, naquele tempo essa senhora execrável há muito que não seria ministra. Há portanto diferenças. Mas acho que percebeste o que pretendi dizer. Para mim não é nada reconfortante. Quer dizer que falhamos, tu, eu e outros como nós que até acreditamos.
Sem ironias.

shark disse...

E se eu gosto de pessoas, Susete!
:)

shark disse...

Percebi, pois. E falhamos sim, com um resultado tão desastroso que ainda nem fazemos ideia de até onde pode chegar o descalabro.
Sem ironias também.