Dizia eu na posta acima que a passarinha foi-se como se veio.
Mas essa é a componente mais suave do que está em causa para mim.
É que passarinhas há muitas e por morrer uma passarinha não acaba este Verão armado em Outono por antecipação.
No entanto, a coisa fia (pia?) mais fino quando o pai tubarão acabadinho de chegar à sala se depara com um cenário que, de todo, a filha tubarona não gostaria de assistir.
E é aqui que entramos de carola no cerne desta posta de sequência.
A minha filha ainda acredita no Pai Natal, apesar de cada vez mais acutilante e desconfiada no teor das perguntas pragmáticas acerca de, por exemplo, o velhote das barbas ter que acumular com os do trenó voador supersónico os poderes da Mulher Elástica (para caber em chaminés urbanas com a largura onde mal cabe uma passarinha como a que dá origem a esta postagem dupla).
E tenho feito tudo para aguentar a coisa até à próxima Consoada, contorcendo argumentos para a miúda não fazer de parvinha perante os colegas já desencantados nesse particular mas ainda assim conservar esse pedaço de magia no seu percurso pela infância (mesmo que a mãe já tenha tido que lhe explicar a cena do período – mas isso fica para outra posta)...
Prometi à minha filha, exigindo o mesmo em troca, que abdicaria do recurso à mentira para podermos sustentar uma relação à altura do amor que nos liga.
Ora, como está bem de ver, a passarinha de patas ao ar constituiu um desafio matinal que me exigiu um raciocínio rápido e uma decisão complicada.
As hipóteses que me ocorreram:
a) Confrontá-la com a realidade dos factos na óptica da “preparação para a vida” que é indispensável no saldo destas princesinhas modernas;
b) Pô-la a par do destino funesto da ave sem contudo a expor à visão crua dessa realidade inevitável mas foleira;
c) Inventar uma versão que a poupasse a um choque desnecessário e lhe permitisse continuar orgulhosa da iniciativa que entendeu tomar (guardando para daqui a mais uns tempos a recomendação de que não recolha animais sem consulta prévia e para mais tarde ainda o desvendar do que afinal sucedeu).
E não havia muito tempo para escolhas pelo que fiz o que é costume nestas circunstâncias: entreguei ao coração a capacidade decisória.
Mas porque alguns de vós podem não estar virados para este tipo de assunto familiar e porque no Blogger as postas grandes ainda parecem maiores vou deixar o próximo capítulo para quem tenha pachorra para seguir por aí abaixo em busca do resto do meu dilema corriqueiro em apreço.
Nas muralhas da cidade
Há 1 dia
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