Olhou os estragos irreparáveis naquele caminho e parou para tomar decisões. Já não era possível seguir por ali, apenas contornar os danos e acreditar que não haveria enganos na escolha do percurso melhor.
Seria um caminho diferente, desviado do cuidadoso traçado original, mais sinuoso, talvez mesmo inviável a curto prazo pelo transtorno evidente que causava a quem o calcorreava agora sem grande entusiasmo, a pé.
Precisava tomar uma decisão, fechar aquele caminho à circulação ou meter mãos à obra para construir uma ponte por cima da destruição que alterara a percepção de quem ali passava todos os dias sem folgar.
Uma ponte para disfarçar o mal já feito, a desculpa mesmo a jeito para as mudanças necessárias em hábitos prejudiciais dos utentes normais daquela via, ou um caminho alternativo que poderia a ninguém servir.
Precisava decidir e sentia a pressão de quem sabia por antecipação a resposta desagradável, o dilema inevitável pela culpa formada, a certeza de que aquela estrada já trazia pouco de bom a quem a percorria aparentemente só porque sim. Antevia-lhe o fim, assim danificada, na sua mente amargurada que conduzia à desistência do projecto inicial, aquilo que sentia como um mal mas entendia necessário para evitar perdas ainda maiores a qualquer utente desagradado com a situação.
Olhou a possível reparação como uma mera utopia, um investimento que não garantia um futuro em condições, que implicava alterações de cariz temporário, remendos de asfalto precário e de betão para camuflar a destruição quando parte da obra colapsou. E o resto acabaria por ceder, adivinhou, certamente seria o caso e isso tornava qualquer atraso na decisão num risco de que a razão o dissuadia.
Aquilo que previa há algum tempo ao observar no pavimento as marcas iniciais do processo de degradação acabara por acontecer.
Olhou o caminho com olhos de ver. E depois sentiu-se egoísta na sua pele de malabarista do remedeio e respeitou o anseio de quem por ali passava e dizia que já pouco ou nada agradava no percorrer daquele chão. E por fim tomou a sua decisão.