10.9.09

JOVEM APRENDIZ

Se nos preceitos comuns de um grande amor a malta costuma incluir a autêntica fusão entre duas pessoas e respectivos destinos, como encaixam nesse figurino as excepções à regra, nomeadamente as que implicam qualquer tipo de experiências individuais e que não se queiram ou não se possam partilhar com o/a destinatário/a desse amor, sem colocar em causa as "vacas sagradas" que o romantismo defende?

14 comentários:

CybeRider disse...

Do que havias de te lembrar...
A geologia do amor é complexa. O garimpeiro tem que estar à altura de encontrar o ouro enterrado na caca de vaca. Se não estiver à altura de saber enterrar a caca, conforme vai recolhendo o ouro, de nada lhe servirá garimpar o ouro. Para os mais inábeis talvez seja mais simples esquecer a pesquisa e cumprir os tais cânones, ou mirar as vacas sagradas como um turista estarrecido, e fingir que o brilho e o cheiro vêm de outro lado, ou assim. As vacas sagradas ficam sempre tão bonitas nas fotografias inodoras...

shark disse...

Ouro enterrado na caca de vaca? Isso cheira-me a investimentos no BPP...

Mas fora de piada, ou menos dentro, é complexo viver um amor sob as regras universais ou do senso comum quando não faltam as situações que expõem alguns pressupostos (ai, as histórias de encantar...) no seu absurdo. E bem sabemos o quanto a violação de tais pressupostos acarreta uma reacção urticária da parte de quem os abraça como códigos de conduta e de avaliação da "qualidade" de um amor.
É aí que o cheiro se faz sentir...
:)

Gemini disse...

Pois eu acredito que há muitos, muitos mesmo, desses amores, "grandes amores", que fogem ao conceito universal de "grande amor", ao conceito "padrão". Onde cada parceiro respeita totalmente a individualidade do outro!

Serão é mantidos no "segredo dos deuses", para que não sejam perseguidos por esta sociedade hipócrita! e isso será uma prova, não de covardia, mas de inteligência. Aquela intiligência em vias de extinção.

Um abraço, Shark!

Gemini disse...

Troquei um "e" por um "i" na inteligência... Que se lixe...

Herrar é Umano!

shark disse...

És bem capaz de ter razão, Gemini, até porque sociedade hipócrita é mesmo a expressão a usar.

Abraço para ti também.

CybeRider disse...

Dois casos práticos (um de curta e outro de longa duração):

O Romeu e Julieta, descobriram muito ouro, não souberam enterrar a caca. Ficaram até ao pescoço...

O outro caso que me ocorre: depois de descoberto o ouro, andam a enterrar caca até hoje!

Se calhar há meio-termo, eu é que não conheço.

Os pressupostos individuais têm que ser aceites por ambos ou passam a pontos de ruptura. Hoje ouvi na "prova oral" da Antena3 o Alvim com um casal de convidados defensor e praticante de "swing" e que têm uma vida em comum há 5 anos, com filhos, e muito felizes. Fiquei a pensar que há ali muita coisa que viola alguns princípios que me foram incutidos em valores morais e sociais, e pensados e assimilados como verdades absolutas. Isso só significa que eu não poderei ser assim, por limitação individual. E eventualmente haverá muito no futuro que me será sempre difícil de aceitar, por territorialidade, tacanhez, fundamentos pré-históricos. Mas apedrejar, não apedrejo, e invejar também não. Desde que não seja guerra... É amor, é positivo.

Claro que me perguntarás como reajo se quem eu amar me perguntar como encaro a possibilidade de entrar num esquema desses... Epá, pois aí a porca por enquanto torce o rabo. Depois há que pôr os pesos na balança... E às tantas ou arrumo o palco e vou vender o meu peixe para outro lado, ou lixo-me mesmo para o raio dos cânones. Mas até lá não me dou por vencido e prometo luta pelo que achar que é certo.

A questão que me pode doer não é a da sociedade hipócrita porque me estou bem lixando para isso, é justamente a aceitação de outrém pelas cenas esquizóides que me passem pela cabeça, ou vice-versa. A total compreensão pela individualidade de quem se ama, é bonito. Mas para mim é apenas outra utopia. Não posso comer essa do amor carregado do sofrimento que comporta a violação de conceitos supra-intelecto.

Mas cada um saberá de si.

shark disse...

Eu sei de mim, Cy. E apesar de entender perfeitamente todo o "sumo" da tua exposição sincera no comentário acima (e que será sempre um dos melhores que este blogue recolheu), não concordo com a expressão "cenas esquizóides" quando associada a fantasias que dois amantes acordem passar à prática. Espero não ter interpretado mal a ideia, amigão, mas foi assim que me soou.
Eu sou um amante inteiramente disponível para os desejos de quem amo e que me envolvam, a minha maior dificuldade é precisamente enfrentar os cenários que me excluam quando me manifesto tão disponível assim e arriscando algumas experiências de que possa não gostar...
O swing não será o melhor exemplo para o que pretendia afirmar no post, pois acabo por enfatizar o pormenor do individual. Mas qualquer escolha nessa matéria, mesmo combinada a dois (ou mais) acaba por implicar uma opção em cada interveniente, pelo que podemos partir daí para o tal arquétipo estilhaçado made in corin tellado...
:)

CybeRider disse...

A cena só é esquizóide se for apenas de um. Tudo o que for a dois é super válido! O "outrém" é a pessoa amada pá, no contexto de ter que se submeter a cenas egoístas que não a envolvam, e ter eventualmente que viver feliz com isso. A sociedade que se lixe!

Desculpa o mal entendido. Mas ainda bem que me deste a chance de clarificar.

(Pela pessoa amada, até posso ser furado com pregos... Olha, não me dês ideias!!!)

Mas não receies, se viste o "Império dos Sentidos", expressa bem essa imagem, é natural que ninguém gostasse noutro qualquer contexto que lhe apertassem o pescoço...



:))))

Gemini disse...

Quando o prazer e a dor da minha parceira, são o meu prazer e a minha dor, a utopia está longe. Muito longe. Porque o que me dará prazer, será sabê-la a ter prazer, e não o prazer que me era suposto gozar, implicito para mim, mas à margem do dela!

E eu acredito, efectivamente, que se na dor nos são possíveis tantas semelhanças, porque insistimos nós no egoísmo ao nível do prazer?

É preciso "descentralizar"!

CybeRider disse...

Gemini,
Eu posso ser muito egoísta, mas se aceito tudo a dois não aceito tudo a um mais um.

A utopia que refiro são os sacrifícios que possa suportar por alguém que diga que me ama mas que saia pela porta para partilhar outros prazeres que eu não defenda. E aí tenho muitos limites, embora faça concessões, até porque também gosto da minha liberdade, mas essa liberdade não é absoluta, há limites morais que não transponho. E nesses exijo (e exigem-me) confiança absoluta.

Por isso falei do swing...

Sei que é bonito pensar que, se ela vai para o que gosta, eu me devo sentir feliz porque a felicidade dela deva ser um pilar do grande amor que lhe tenha...

É bonito. Mas não sou eu. É a este tipo de "amor" utópico (utópico para mim, porque há quem o entenda) que me refiro.

Gemini disse...

E percebendo isso, CybeRider, acredito que há (haverá) no planeta a medida que te completa. Que há (haverá) pessoa com "as tuas" "limitações". Que talvez por se encaixarem melhor na imagem padrão que a sociedade estabeleceu sobre o que é "um grande amor", não carecem de ser ocultadas. Pois como dizes, apesar de "limitado" (bem entendido, claro), TU és tolerante, mesmo isso já sendo um pouco uma fuga a essa mesma sociedade, que normalmente não tolera!

Os que vivem os "tabus", que os há que vivam, é que no minimo por falta de tolerância, os têm que ocultar!

Gemini disse...

Cybe, eu também tenho os meus limites, que em mim, se calhar, nem são limites... Serão o todo que eu serei. Ainda assim esses meus limites, serão um excesso, para muita gente, intoleráveis!

shark disse...

Atão e conta lá ó Gemini até onde estás disposto a ir.
:)

Gemini disse...

Isso agora, Shark... É assunto para um "Diálogo com a piroca"!

;))