18.5.08

ÁGUA DE TI

Percorri em silêncio o nosso caminho. Só pensei em ti. Em nós também, mas agridem-me as lembranças de um tempo que há muito deixei de viver. Em nós, pensei menos um bocadinho. Lembrei-me de como as árvores no horizonte se transformavam por magia em guerreiros gigantes, guardiões da passagem mais nobre para os montes distantes, mesmo na fronteira do paraíso, quando ainda brincávamos ali. E afinal o paraíso eras tu, bem o sei agora.
Escapa-se das minhas mãos a água do riacho, como por entre os dedos fugiu a última madeixa do teu lindo cabelo negro que tive a sorte de acariciar. O cabelo longo que molhavas com alegria, junto à água que corria. E eu, encostado a uma rocha, olhava para ti e ficava feliz.

Na boca amarga-me amor o acre da saudade, mastigada com solidão. A água fresca do riacho não me adoça o coração azedo e não mata a sede, a que mais me atormenta, muita sede de ti. Mas bebo muita, bebo toda quanto posso, que quando o teu sorriso se fez beijo, chapinhávamos os dois, a água já aqui corria.
Se for a mesma, aquela mesma que te tocava, prometo todos os dias aqui virei, em silêncio pelo caminho, dar à alma a tua boca e à minha boca uma ilusão.