O PN levanta no seu blogue uma questão melindrosa e pertinente. Já não me lembro bem da questão que ele levanta. Ah, sim, é a cena da cannabis afectar a memória de curto prazo. Ou seja, afirmam uns gajos que a cannabis pode provocar amnésia.Concordo com essa teoria. Qual teoria? Ah, pois, os que fumam "daquilo" ficam mais esquecidos. E os que não fumam, idem.Só assim se explica que depois das eleições nem o Bloco de Esquerda, nem a JSD (?), nem (e sobretudo) a JS voltaram a referir aquela questão bué da jovem que fica tão bem nas campanhas eleitorais. A liberalização das drogas leves, ou despenalização ou o raio que os parta, foi direitinha à gaveta dos assuntos fixes para o próximo plebiscito. Esqueceram-se, claro.
E esse lapso da memória de curto prazo que afecta as organizações político-partidárias pode levar-nos a concluir que os partidos também dão nela. O que explica algumas das suas peculiares características, nomeadamente o facto de se-lhes varrerem da tola as promessas que atiram ao ar para ficarem bem compostos na fotografia para os chavalos que votam, como eu.Quem já visitou Amesterdão sabe do que estou a falar quando faço a apologia da despenalização. Não me sai da memória de curto prazo a história do puto que foi preso meses a fio por causa de uma plantação de erva que o pai dele tinha no jardim. Se fossem begónias, só mesmo a inveja da esposa do comandante do posto da GNR local poderia assumir tais proporções. Ridículas, absurdas, aberrantes como só é possível em Portugal e no Dubai.
Transformar cidadãos válidos e inofensivos em criminosos passíveis de prender preventivamente é um absurdo de dimensão colossal. Mesmo os políticos que não fumam só podem andar a reinar com o pessoal quando viram a cara para o lado perante esta evidente estupidez.Lembram-se do Carl Sagan? Admitiu, pouco antes de morrer, que boa parte do que produziu e que tanto entusiasmou milhões de caretas pelo mundo inteiro, o Carl Sagan (não sei se tão a ver) admitiu que fartou-se de escrever sob a influência daquela cena que faz perder a memória. Mas ele não se esqueceu de ser um dos gajos mais brilhantes do seu tempo na sua área. E podia não ter produzido coisa nenhuma se o caçassem no Bairro Alto a adquirir material para a carola e o enfiassem no Linhó.
Nunca vou entender porque insistem em meter drogas leves e drogas duras no mesmo saco. Um pouco como atribuir o mesmo valor de coima para o mau estacionamento e para as corridas em contramão nas auto-estradas. Eu vejo isto com clareza, apesar dos danos irreversíveis na minha memória de curto prazo: enquanto as autoridades insistirem na sua cruzada contra as traineiras que, honra lhes seja feita, nos trazem essa perigosa substância que tanto afecta o PN, o Carl Sagan, o João Pedro da Costa (que até tem uma Rua com o seu nome) e eu próprio (aproveito para me misturar pela surra neste leque de virtuosos), enquanto se mantiver esta ilegalidade indigna de um país com olhos na cara, estaremos a fomentar um disparate sem nexo e a concentrar as atenções e os meios (escassos) nos fantasmas de papel."Ena pá, ganda pinta, a polícia apreendeu mais não sei quantas toneladas de haxixe. ", aplaude o cidadão comum enquanto um mânfio lhe viola a filha ou lhe furta o automóvel acabado de comprar. E depois votam nos asnos que possuem a capacidade de pôr fim a esta aberração e eles (os asnos) esquecem apressadamente as promessas gritadas no intervalo do concerto dos Xutos onde encaixam os seus comícios de carnaval.
Já sou um bocado crescido para fumar às escondidas. E já dei provas de ser um cidadão válido, atinado qb e capaz de contribuir para o PIB, a Segurança Social, os impostos e essas merdas todas. E tirando uma ou outra maluqueira, nunca incomodei o remanso da sociedade em que me integro na perfeição (mais ou menos). Porque carga de água tenho que carregar a canga do marginal que a legislação proibicionista me confere?Não faço ideia. E se calhar isso explica-se pelos tais danos colaterais de que o Fumos fala. Contudo, em face do que acima descrevo, até me sinto grato pelas falhas de memória.Permitem-me esquecer a insensatez, a hipocrisia e a falta de vergonha dos caralhinhos que me representam nos órgãos do poder que me enoja.
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