18.5.08

A POSTA ROMÂNTICA (Jan 2005)

Sou um dos raros privilegiados que, pelo menos uma vez na vida, conheceram o amor na sua vertente mais avassaladora. Os mais cépticos, coitados, desdenham da existência desta emoção única que pode nascer de um simples olhar. O amor à primeira vista não é um delírio romântico de telenovela. È possível, é real e constitui uma das impressões mais marcantes da existência de qualquer pessoa.Eu concretizo melhor: receber no peito o impacto desse instante poderoso obriga-nos a reconhecer, entre outras maravilhas, a emergência do romance na vida das pessoas. E utilizo a expressão emergência no seu sentido mais comum: é urgente despertar para a falta que o amor faz.

No preciso momento em que, entre centenas de rostos, o meu olhar se concentrou apenas num, descobri a essência desse impulso irresistível que nos empurra para os braços de outra pessoa. O meu arquivo blogueiro fala por mim no que concerne às muitas fés e ideologias a que nunca me converti. Sou um agnóstico, por regra pessimista e pouco dado a mares de rosas com perfume de utopia. Nesse sentido, nunca acreditei e nunca acreditaria num conceito como o do amor à primeira vista se não tivesse sido abençoado com a sua aparição. De rompante, um rosto de mulher tomou de assalto a minha descrença que outros rostos de mulheres por quem me apaixonei, ou algo parecido, nunca contrariaram. Sem apelo, rendi-me ao halo de luz e nada em meu redor continuou a fazer parte da realidade tal como eu a experimentei na altura.Era ela e mais nada ou alguém. E eu com o coração a galope, desorientado mas com a plena consciência do que me estava a acontecer.

Nada poderia atravessar-se no meu caminho quando furei a custo o mar de gente para me aproximar do ser humano que, até este dia, maior abalo me causou nas fundações. Ninguém poderia disputar a sua atenção nesses minutos de que eu dispunha para entrar na sua vida como ela já se instalara de armas e bagagens na minha. Numa tirada infeliz um amigo colocou-me a seguinte questão: e se eu descobrir um dia que ela é o amor da minha vida e quiser disputá-la? E eu respondi de imediato, falou o coração. Desistes ou morres. E não lhe restava mesmo outra alternativa, enquanto ela me quisesse como eu a queria e viria a acontecer.O amor à primeira vista é como um relâmpago que nos atinge, alta voltagem de uma corrente de paixão. É talvez, tal como faço questão de a recordar até ao fim dos meus dias, o vislumbre mais aproximado que terei de Deus se Ele existir sob esta forma - como gosto de acreditar à revelia da minha apregoada falta de fé.É esse o fundamento da minha perspectiva romântica das relações amorosas entre as pessoas. É por isso que afirmo sem hesitar que a cada esquina da vida, sem qualquer esforço de procura, pode encontrar-se o amor de uma vida.

E quando isso acontece, podem ter como certa uma coisa: a gente percebe na hora do que se trata.