Uma janela aberta por detrás da cortina diante da escrivaninha, empurrada pelo vento, um relógio que marca o tempo na parede que não pára de envelhecer, o tempo que até faz doer por passar tão depressa assim, o tapete já gasto pelos passos perdidos no espaço de tempo que levou a pensar, o habitante deste lugar imaginário, estar na hora de sair para a rua lá fora.
A mesma que ele espreitou por uma janela aberta por detrás da cortina...
5 comentários:
essa casa está a precisar de obras!
não faz mal, se calhar o gajo até é empreiteiro...
A fobia social é uma cena marada. E o que custa, ao fim de um ano, despir o pijama?
Depende um bocado de quem o despe, Cy. Eu dispo de borla...
:)
(deve custar imenso, eu sei)
Preambulo às instruções para dar corda ao relógio
Pensa nisto: quando te oferecem um relógio, oferecem-te um pequeno inferno florido, uma prisão de rosas, um calabouço de ar. Não te dão somente um relógio, muitos parabéns, que te dure muitos e bons, é uma óptima marca, suíço com não sei quantos rubis, não te oferecem somente esse pequeno pedreiro que prenderás ao pulso e passearás contigo. Oferecem-te – ignoram-no, é terrível ignorá-lo – um novo bocado frágil e precário de ti mesmo, algo que é teu mas não é o teu corpo com uma correia, como um bracito desesperado pendente do pulso. Oferecem-te a necessidade de lhe dar corda todos os dias, a obrigação de dar corda para que continue a ser um relógio; oferecem-te a obsessão de ver as horas certas nas montras das joalharias, o sinal horário na radio, o serviço telefónico. Oferecem-te o medo de o perder, de seres roubado, de que caia para o chão e se parta. Oferecem-te uma marca, a convicção de que é uma marca superior ás outras, oferecem-te a tentação de comparares o teu com os outros relógios. Não te oferecem um relógio, és tu o oferecido, a ti oferecem para o nascimento do relógio...
Autor: Júlio Cortázar in "Histórias de Cronópios e de Famas")
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