23.5.10

TÃO ÓBVIO...

...O fim que nem precisou aguardar pelo genérico final daquela película que protagonizara até então.
Percebeu a cada imagem e sequência o guião da desistência anunciada em cada cena alterada, cada vez mais distante do argumento original.
Percebeu que chegava ao final o terceiro acto da vida encenada numa vontade reprimida pela realidade espontânea das reacções. Percebeu a diferença das emoções na ausência dos gestos que as transmitiam, nas desconfianças que surgiam à tona sempre que a ameaça latente, o fantasma presente, se desenhava a cada discussão.
Tão óbvio que estranhava a sua presença no estúdio, reclamada pela diva que afirmava não conseguir dispensar a sua actuação sob as luzes da mesma ribalta. Sentia-lhe imenso a falta, era recíproco, apesar dos improvisos que acrescentava ao seu papel.
E ele tentava desempenhar o melhor possível a personagem que lhe competia, mas a cada cena descobria não ser talhado para a função. Não conseguia alimentar a ilusão quando tudo lhe dizia que contracenava com quem parecia querer esfomear a sua, ou afogá-la em contradições que a pudessem confundir ou mesmo levá-lo a desistir daquele lugar que conquistara na história construída a dois.

Mas isso era algo que ambos adiavam (para) sempre para depois.


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