31.1.11
30.1.11
29.1.11
TUDO CONT(R)A
Vieram de noite os justiceiros que libertaram os segredos prisioneiros e o alarme soou nas consciências de quem os queria silenciados, factos mais convenientes quando sonegados da verdade como alguém não a queira enfrentar.
Soltaram os cães de madrugada para os procurar, foragidos, ao longe ouviam-se os latidos que transmitiam a raiva incutida pelos donos que cumulavam esse estatuto com o de guardas-prisionais dos alegados vilões como os queriam definidos enquanto andassem à solta e pudessem contagiar alguém com o conhecimento inato que qualquer segredo implica depois de libertado, um saber que se mantinha amordaçado pelo perigo que podia constituir para o seu juiz e carcereiro, o segredo prisioneiro da sua condição de refém à mercê de quem o queria enterrado mesmo sendo difícil matar algo de tão sagrado, em confidência, que parece até poder ressuscitar.
O alarme na consciência a soar, estridente, e o carcereiro imprudente numa aflição, embrenhado na perseguição dos fugitivos antes que lograssem encontrar um santuário onde pudessem gritar esse impulso primário que os libertaria porque na realidade os exibiria como uma verdade oculta, inocente condenada à bruta à prisão numa mente de máxima segurança supostamente para sua protecção.
O ganido distante de um cão imaginário tombado aos pés de um segredo presidiário acabado de revelar, golpe de misericórdia na derradeira possibilidade de ocultação da verdade que conseguira por fim escapar, denunciava a traição como a entendia o falso agente de uma autoridade relativa que mantinha a verdade cativa por uma questão de interesse pessoal.
Prisioneiro de uma contradição porque definitivamente amarrado a uma sensação amarga de vitória, ainda que temporária, do bem sobre o mal.
28.1.11
CONFÚCIO DE BOLSO
26.1.11
O EFEITO PIASSABA
25.1.11
ET PHONE HOME
24.1.11
A MINHA GARGALHADA DO DIA
A mulher sugere que ele se vá consultar a um psicólogo, esses doutores que aconselham gente, mas ele não vai!
Um dia ele chega a casa cabisbaixo. A mulher percebe que alguma coisa não está bem. Pergunta o que foi. Ele responde:
- Lembras-te de eu desabafar contigo que andava com uma vontade irresistível de meter o coiso na cortadora de fiambre?
- Oh, não! – diz a mulher — Tu fizestes isso, fizeste?!
- Sim, eu fiz!
- Meu Deus, e o que aconteceu?
- Fui despedido; vim pró olho da rua – responde o marido.
- Mas… e a cortadora de fiambre?!
- Coitada da rapariga, foi despedida também…
BISTURI DE DAMOCLES
PADRÃO DOS DESENTENDIMENTOS
O CAIR EM MIM
23.1.11
22.1.11
HASTA SIEMPRE
21.1.11
20.1.11
ODE A UM POE(TRE)TA
Sangra dentro de ti poeta a ferida de uma emoção de treta que escreves, capataz, até soas capaz de transformares pequenos pardieiros em edifícios com muitos andares, oh inclemência!, e esgotas-me a paciência com essa ladainha, ela agora é dele e antes era minha, e abres o coração à necessidade absoluta de uma transfusão da qual o cérebro tanto necessitava afinal.
O caudal intenso que jorrava desses olhos feitos nascentes de rios como os pintavas quando tentavas render-lhe homenagem, crocodilo, no poema desenhado a custo na humidade deixada pelo rasto de uma lágrima de dor que imaginas no monitor porque há muito não escreves num papel esse amor todo à flor da pele a que chamas o solo da mãe terra mas a vida cortou-te o subsídio para poderes continuar a lavrar.
E tu precisas desabafar, não aguentas a pressão interior, aos gritos essa saudade de um amor perdido no jogo batoteiro em que te deixaste apanhar.
Mas eu, sinceramente, já não estou para te aturar.
19.1.11
TIQUES DE BURGUÊS
EKZISTADISMO É QUE TÁ A DAR
CRISE DE IDENTIDADE
HARÉM MODERNO
18.1.11
FÁBRICA DOS MILAGRES
17.1.11
DE UMA SINCERIDADE COMOVENTE
INÍCIO DE SEMANA SOBRE RODAS
16.1.11
JUÍZO EM CAUSA PRÓPRIA
O ÓBITO FAZ O MONGE?
15.1.11
14.1.11
O POVO É QUEM MAIS PALREIA
HIDE AND SEEK
A pessoa observa, a pessoa sente, a pessoa raciocina e a pessoa às tantas deixa de se ralar. Acontece sem se dar por isso, como se cada observação funcionasse como uma espécie de torneira numa ampulheta imaginária que deixa jorrar grãos que parecem areia mas afinal são pó a que percebemos reduzida a capacidade de cada vez mais coisas importarem cada vez menos e apesar de percebermos que isso até nos protege de uma data de desgostos facilmente concluímos que algo de nosso se perdeu.
Claro que é mais fácil afirmar o contrário por entre um sorriso hipócrita e um encolher de ombros que, apesar de como gesto de reacção a uma pergunta querer dizer precisamente o contrário, nestas coisas transmite sempre uma enorme certeza no cagar.
É uma forma como qualquer outra de enfrentar as consequências do que somos e de como essa essência que nos faz possui fragilidades, imperfeições e outros duques inesperados no que gostamos de acreditar ser um jogo ganhador.
O maior trunfo é o amor, capaz de tornar irrelevante quase tudo o resto, mas mesmo esse pode de vez em quando transformar-se num joker que nos estraga o royal flush na mão de poker que empunhávamos com a certeza dos vencedores.
A pessoa acredita, a pessoa idealiza, a pessoa ambiciona e a pessoa às tantas perde boa parte da fé. Acontece aos poucos, quando nos percebemos e aos outros simples cartas fora de um baralho que afinal são muitos, tantos quantos cada um de nós. Aparentemente juntos numa luta individual pelo milagre da compreensão da maior parte do que nos rodeia, sem antes cuidarmos de perceber os nossos próprios mecanismos de observação e de os calibrarmos em função da mudança que não pára de acontecer. Inevitável, surpreendente, inexplicável, as contas baralhadas como as cartas tresmalhadas do rebanho a que não aceitamos pertencer porque queremos fazer valer aquilo em que acreditamos porque sem isso é muito mais complicado chegar a algum lado, sem uma qualquer linha permanente de orientação.
E depois tentamos ocultar, os que conseguem, a tristeza que implica descobrir que nem nos podemos dar ao luxo de desabafar a fraqueza sob pena de nos submetermos ao embaraço de percebermos que nos viram as costas porque de repente perdemos um brilho qualquer, porque não damos vontade de sorrir, pobres palhaços ricos que admitem sentir coisas que parecem proibidas num mundo desenhado para gente divertida com uma aparência permanentemente feliz. Sem momentos de hesitação, sem impulsos para a confissão de um pecado que por algum motivo bizarro ninguém parece perdoar.
E depois de consumada mais uma desilusão que sentimos como uma pancada tentamos fechar à pressa a tal torneira na nossa imaginação, demasiado tarde para impedirmos que no lado de baixo da ampulheta (a gravidade a trabalhar) ou, raras vezes, no olhar, aconteça outra pequena inundação.
13.1.11
SINAIS DIVINOS
INSISTO OU TEIMO?
12.1.11
CONFÚCIO DE BOLSO
Na felicidade as coisas mais importantes fazem parte do seu mínimo denominador comum e na simplicidade encontramos tudo aquilo de que precisamos, sendo estranho que essa necessidade acabe sempre por se manifestar impregnada de uma tendência inata para a complicação.