O sentimento é contraditório por inerência. Se pode constituir um indicador da verdade das emoções fortes e até um motivo de satisfação para com quem o suscita, por outro lado possui a carga negativa que a distância engloba quando está em causa, por exemplo, uma paixão.
É nessa aparente contradição que reside provavelmente a dificuldade em definir numa só palavra (a língua portuguesa, claro, nunca se atrapalha) a salada de sentimentos associada ao conceito a exprimir. Não há como fugir à sua prevalência quando sentimos uma ausência como factor de perturbação. É como uma doença da alma, terrível, que espalha metástases de uma maleita invisível que nos espreita no espelho quando a alma invade o olhar com o desassossego que essa realidade nos dá.
E mais inquietação do que a saudade provoca não há.
8 comentários:
Nem imaginas como eu compreendo o que dizes ... :)
A confiança e o respeito pelo outro são os alicerces.
Até amanhã se Deus quizer.
Eu também estou muito bem alicerçado, Joaninha.
:)
Precisas de algum conselho de uma expert em saudade? ;))
A minha relacao com o Husband foi, durante mais de 5 anos, uma relacao vivida sobretudo a distancia... Agora, as minhas relacoes familiares e de amizade, sao tambem quase todas elas, ja vai para mais de 4 anos, mantidas a distancia... Eu costumo dizer que uma relacao, (seja ela de que tipo for), que sobreviva a distancia e a saudade, sobrevive a qualquer outra coisa. O que nao mos mata, torna-nos mais fortes...
Bj da Jo;)
Não podíamos estar mais de acordo, Jo.
Beijo também.
Teu só sossego aqui contigo ausente
Na casa que te veste à justa de paredes,
Tenho-te em móveis, nos perfumes, na semente
Dos cuidados que deixas ao partir,
A doce estância toda povoada
Dos mínimos sinais, dos sapatos de plinto
Que te elevam, Terpsícore ou Mnemósine,
Como uma estátua fiel ao labirinto.
Aqui, androceu da flor, o cálice abre aromas,
Farmácia chamo à tua colecção de vidros
Onde, à margem de planos e de somas,
Tenho remédio para os meus alvidros.
O chá é forte e adstringente,
O leite grosso sabe à ordenha,
E até nos quadros vive gente
À espera que a dona venha.
Porque tudo nos tectos é coroa,
No chão as traînes, os passinhos salpicados
Como o vento ainda longe de Lisboa
Escolheu a gaivota do balanço
Que no cais engolfado melhor voa:
Um vácuo, enfim, que o não será — tão logo
Chegues no ar medido e a aço propulso:
Por isso um pouco de fogo
Bate sanguíneo em meu pulso,
Pois o amor de quem espera
É uma graça a vencer.
Uma casa sem hera
É como gente sem viver.
Vitorino Nemésio,"Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga"
Olhó amnésico! Há tanto tempo que não o lia...
:)
Obrigado, Sumaca, pelo complemento certo para a minha posta.
;)
Não tens que agradecer. É a tua escrita que tem a capacidade de me remeter para a lembrança de sentimentos vividos e que quase sempre estão associados a uma obra, um pensamento, um poema, uma música.
Eu é que agradeço por este despertar :)
You're welcome!
;)
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