MONÓLOGO DA PIROCA

Sinto-me refém, prisioneiro desta roupa que me escurece e silencia (sei que não sou ruidoso mas ficava bem a frase acabada assim). Queria badalar em liberdade e sentir bater o ar à minha vontade e poder erguer a minha fala (falo por gestos, que foi?) sempre que penso nela e não reprimo uma espreguiçadela das que me dão imenso prazer.

É tanto que até faz doer, sempre comprimido pelo desagradável tecido das calças de ganga onde surjo patético como uma forma estranha na zona que faz fronteira entre a minha existência na sombra e a luz do dia onde se eu pudesse sorria sempre para o sol.

Preciso dizer de mim, ignorado como me sinto assim tão escondido neste tapume de vergonhas que não sinto de todo como minhas.

Sou apenas uma piroca. E a coisa vista pelo meu prisma é sempre bonita. E muito ao natural.